Descobri outra coisa que também invento. Fantasias. Preciso de um par de estalos de realidade para aterrar os pés no chão. No fundo sou eu que me iludo a mim própria, pois a minha realidade fictícia é muito mais bonita que a verdadeira. Na minha ilusão, a história tem muitos episódios. Depois vou a ver, em concreto, e afinal só tem meia dúzia, e todos eles fraquitos até. Parece que sonho acordada. Acho que tenho dupla personalidade.
Há momentos em que estou ciente e lúcida, e consigo ver as coisas friamente, que é precisamente quando a tristeza se abate sobre mim, pois vejo a fatalidade da realidade. Aqui sou objectiva e alinhavo determinações perante o panorama que se me apresenta. Chego mesmo a escrever notas para mim própria, esses tais estalos de realidade, para não vacilar e para interiorizar as transcendências que me iluminam nesta fase. Doi, mas sou consciente.
Noutras alturas, prefiro enganar-me a mim própria, e pensar que nada é assim tão linear, preto no branco, que há um sem fim de paletes de cores e que não há verdades inexoráveis, certas. Aqui vivo num mundinho colorido e bonito, e alegro-me perante a ilusão de que tal pode acontecer em meu favorecimento.
Neste momento estou confusa, não sei qual das minhas facetas será a acertada, se é que existe um certo nisto tudo. Sendo fria e implacável estilo ou sim ou não, não há cá meias verdades nem dúvidas existenciais. Ou uma miúda com esperanças e que acredita num leque de possibilidades felizes, mesmo quando o presente é cinzento.
A título de exemplo:
Na maior parte do tempo (e da minha vida), sou apologista do ou se gosta ou não se gosta, contrariamente ao aprender a gostar. Isto para aquelas situações em que as pessoas andam umas com as outras porque calhou, e porque é boa pessoa e tal, e posso aprender a gostar. Isto para mim não existe. Para mim, ou dá faísca ou não dá. Se não dá, a coisa não há-de correr bem. Não digo que só haja amores à primeira vista, não. Mas tem que haver qualquer coisa, de início. Se não há interesse suficiente para pôr a máquina a mexer, não é no "vamos indo" que vai despertar. Ou queres, ou não queres. Não tens certeza? Tens dúvidas? Então é porque não é. E pronto, não adianta bater no ceguinho, adeus e um abraço.
No entanto, tem dias em que sou crente e...parva, vá. Que vacilo. Que pondero que se calhar as coisas não são assim tão lineares, nem há parâmetros supra definidos ou estipulados, e cada caso é um caso. Que talvez as pessoas tenham diferentes maneiras de gostar e de começar a gostar. Que pode haver o andar a conhecer e o deixa andar a ver no que dá.
E depois, claro, tem dias que me canso da minha dupla personalidade e invento uma terceira, que manda tudo à merda e desiste de tentar ler o ilegível.
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